Vrajamany Fernandes Rocha, de 11 anos, não viu quando o tigre dilacerou o seu braço direito. Ele diz ter ficado com o rosto prensado contra a grade que o separava do felino e sentia apenas os dentes do animal rompendo sua pele. Só conseguiu olhar para o tigre quando seu pai bateu no bicho, na tentativa de libertá-lo. Apesar do horror, o garoto conta que não sentiu dor durante o ataque.
Elas vieram após ele receber alta do hospital. São constantes os gritos de dores imagináveis. Segundo o menino, era como se uma agulha cutucasse o seu braço que não está mais ali. Demonstrando tranquilidade, Vrajamany contou detalhes sobre a tragédia no Zoológico de Cascavel, no Paraná, no último dia 30 de julho. Já em sua casa, na Zona Norte da capital, o garoto falou ao DIÁRIO. É a primeira entrevista dele para um veículo impresso – até agora ele só tinha aceitado conversar com o “Fantástico”, da TV Globo. Com uma maturidade que impressiona, principalmente por conta da pouca idade, o garoto fala sobre desafios que vem enfrentando sem o braço direito e o desejo de voltar a praticar Kung Fu, seu esporte favorito. Por enquanto, o jovem se dedica a aceitar os cerca de cem pedidos de amizade que chegam por dia em sua página no Facebook. Em nenhum momento Vrajamany lamenta a fatalidade. “Não vai adiantar ficar reclamando. Eu tenho de seguir em frente”, disse. Por ter perdido o membro na altura do ombro, ele sabe que há poucas chances de conseguir implantar um braço mecânico. Mesmo não escondendo a vontade, diz não querer alimentar falsas esperanças. “Eu prefiro acreditar que não vai dar. Não quero me decepcionar ”, contou. Ele deve passar por uma avaliação na Rede de Reabilitação Lucy Montoro, do governo estadual. Paixão pelos bichos Dono de dois cachorros, Vrajamany sempre foi fascinado por animais. O menino conta que os peixes grandes são os seus prediletos, mas tem um carinho especial por todos os bichos. As idas ao Horto Florestal, na mesma região onde mora, possibilitou que ele crescesse tendo contato com animais silvestres. “Eu já fui no zoológico aqui de São Paulo, mas não podia chegar tão perto. Lá em Cascavel era diferente”, disse. No zoológico do Paraná, ele entrou três vezes em uma área reservada e chegou a passar a mão no leão e no tigre. A escola Apesar de gostar tanto dos animais, Vrajamany não cogita transformar esse amor em profissão. Ele ainda não fala o que pretende estudar, mas a mãe, a funcionária pública Monica Fernandes Santos, de 37 anos, desconfia que será algo na área de exatas. “Ele é muito bom em matemática”, disse Monica, que, por enquanto, acertou com a escola que o filho fará as atividades em casa, para não perder o ano letivo. Rede de solidariedade Vrajamany recebeu a visita do melhor amigo do colégio, Felipe Pereira Andrade, de 11 anos. Foi a primeira vez que eles se reencontraram depois do acidente. “Todo mundo está com saudade. A gente quer que ele se recupere para poder voltar”, disse Felipe. Redes Sociais Além dos colegas da escola, Vrajamany conta com o carinho dos “amigos” virtuais. O garoto, que há duas semanas tinha 92 contatos no Facebook, recebe agora centenas de solicitações de amizade. “Por dia eu aceito umas cem, mas fica gente sem adicionar”, explica. Ele se mostra bastante feliz com as mensagens de apoio enviadas de todas as partes do país. Kung Fu A foto do perfil na página de Vrajamany, quando ele tinha 4 anos, fazendo uma estrelinha, já dava indícios do gosto pela prática de esportes. Há um ano ele começou a lutar Kung Fu. No início deste ano, participou de um torneio e conseguiu uma nova graduação: aposentou a faixa branca, destinada aos iniciantes, e passou a usar a amarela. No mês que vem, deveria trocar de cor. “O meu professor vai ver se eu posso continuar a treinar.
Quero muito voltar.”
Assista ao vídeo da entrevista feita pelo Fantástico:
CássioFotografias com PortalAdesgraça